1: O Budismo
O Budismo é uma religião com diversas tradições. Cada qual tem suas variantes, entretanto, suas práticas e filosofia central têm seus aspectos comuns.
O termo budismo deriva de BUDA e ISMO. O sufixo ISMO, de origem grega, denota “Doutrina de”. Já BUDA é uma palavra do sânscrito que deriva de BUDDHA, particípio passado de BUDH que significa “Despertar”.
As ideias iniciais do Budismo foram apresentadas por Sidarta Gautama, no século VI a.C., em uma região onde hoje é o sul do Nepal. Conta-se que Sidarta Gautama, era um príncipe que renunciou ao trono para trabalhar em prol da erradicação do sofrimento humano. Ele definiu seus ensinamentos como o caminho do meio.
Sidarta Gautama nasceu por volta de 556 a.C. em Kapilavastu, capital de um pequeno reino próximo ao Himalaia. Pertencia a uma família de origem aristocrata e possuía alta erudição e ótima instrução.
Devido a sua origem familiar ele desconhecia a pobreza e a miséria e quando a descobriu tomou um choque de realidade que o motivou em uma busca de trajetória espiritual. A base do Budismo orbita a busca pela eliminação do sofrimento e ignorância humana.
Sidarta vem de SIDDHATTHA, que significa “Aquele que atinge seus objetivos”. Gautama é a junção de GAU, “Gado” e TAMA, “Condutor”. As três palavras derivam do Pali, antiga língua sacerdotal e litúrgica da Índia.
2: Preceitos do Budismo
O Budismo de Sidarta Gautama se fundamenta no que ele chamou de “As Quatro Nobres Verdades”. Elas são assim expressas:
1 – A realidade do sofrimento: Em síntese, a vida é sofrimento. Nossas experiências são cíclicas, variando entre bons momentos e maus momentos. Nada é eterno, tudo tem um fim.
2 – A realidade da origem do sofrimento: Em síntese, o desejo é a origem do sofrimento. O desejo de ter e não obter. O desejo de ser ou de existir. O desejo de não ser ou não existir. O desejo pelo prazer. O desejo é a origem do sofrimento.
3 – A realidade da cessação do sofrimento: Em síntese, o sofrimento acaba quando negamos, renunciamos ao desejo. Isso nos confere liberdade e independência do próprio desejo.
4 – A Realidade do Caminho para a Cessação do Sofrimento: Aqui temos o Caminho do Meio que é a vivência prática para cessar o sofrimento. É feito através do chamado Nobre Caminho Óctuplo.
3: O Nobre Caminho Óctuplo e o Comportamento Ético
O Nobre Caminho Óctuplo são oito práticas de vivência que correspondem à quarta nobre verdade. Ela ensina a necessidade de fugir dos extremos e buscar o equilíbrio e a harmonia.
Segundo os ensinamentos do Budismo, é através da vivência prática do Nobre Caminho Óctuplo que conseguimos cessar com o sofrimento. O Nobre Caminho Óctuplo é descrito a seguir:
1 – Compreensão Correta: Em síntese, devemos compreender as coisas como elas são, fugindo de preconceitos e fanatismos que turvam a visão. Devemos nos esforçar para ver as coisas como elas realmente são e não como imaginamos que elas sejam ou como acreditamos elas deveriam ser.
No mundo de hoje todos têm razão. Ninguém quer aceitar, reconhecer que está errado. Todos só querem ter razão. Assim, em um mundo onde todos querem ter razão, ao fim, ninguém tem razão.
Aceitar que estamos errados em nossa visão, aceitar críticas, é algo difícil nos dias de hoje e, por isso, nada se modifica, tudo permanece incólume. Aqueles que triunfam são aqueles que têm a capacidade de ouvir críticas, reconhecê-las e modificar aquilo que deve ser modificado, mas isso só é possível por meio de uma correta compreensão, ou, na linguagem Budista, através de uma “Visão Correta”.
2 – Pensamento Correto: Não alimentar maus pensamentos, entre eles, a má vontade. Hoje a procrastinação é uma triste realidade. Não podemos nos deixar derrotar já no nível da mente, em nossos próprios pensamentos. Outro pensamento que não devemos alimentar são aqueles que pensamos mal de nossos semelhantes. Hoje um pensamento, amanhã uma ação.
3 – Fala Correta: Não mentir, evitar palavras que machuquem ou palavras de críticas aos nossos semelhantes, principalmente, se forem palavras caluniosas. Não proferir palavras rudes, de duplo sentido ou de baixo calão. Não falar em vão, falar somente quando necessário e o necessário.
4 – Ação Correta: Agir de forma sempre correta, conduta impecável. Não atentar contra a vida; não pegar aquilo que não nos pertence; não ter condutas impróprias. Ter equilíbrio quanto ao sexo.
5 – Meio de Vida Correto: Ter um modo de vida, uma profissão dignificante, que não atente contra a vida animal, contra a flora ou que humilhe outras pessoas. Que a profissão não atente contra os princípios, que não prejudique nada ou ninguém. Que seja útil a si e à sociedade.
6 – Esforço Correto: Aplicar esforços retos, que tragam algo de benefício a si e à sociedade. Aplicar esforços que não tragam benefícios resulta em esforços inúteis e isso é um extremo. Esforços incorretos, futuro em ruínas. Esforços corretos, futuro em construção.
7 – Consciência Correta: Desenvolver consciência corporal, daquilo que se pensa e daquilo que se fala. Fugir das ilusões e buscar a compreensão e a verdade, por mais que esta seja dura. A ilusão é perecível, só a verdade é duradoura. Os caprichos nos levam à ilusão e nos afastam de nossa consciência.
8 – Concentração Correta: Trabalhar para obter o equilíbrio de suas ações e de seus pensamentos. Trabalhar para sua harmonia e pela harmonia do seu entorno. Aprender a ter foco em tudo que se faça, sem desviar a atenção. Manter-se firme em seus propósitos, sendo inabalável diante das dificuldades que aparecerão, inevitavelmente.
4: A Ética Budista em nossa sociedade
Percebe-se que o Budismo preza pelo correto, tanto na vida física como na vida psicológica. É, segundo o Budismo, a ação correta nestes níveis, que acabaremos com o sofrimento. Em síntese, um bom comportamento é fundamental para que o sofrimento humano acabe.
O bom comportamento é a base para acabar com o sofrimento. Em termos práticos, um cidadão que tenha bom comportamento, pelo menos não espalhará dor e sofrimento. Se isso ocorrer de forma coletiva, então, a sociedade terá menor dor e sofrimento pelo simples fato de manter um comportamento adequado.
Países discutem há anos em fóruns internacionais, sem terem, até o momento, logrado, como acabar com a fome, com as guerras e com as desigualdades. As discussões não acabarão enquanto não se considerar que o trabalho não é no âmbito social e sim no nível individual.
O problema não é da sociedade porque essa não é um ser orgânico. O problema está nas ações dos indivíduos. Temos nossos desejos e nossos anseios e isso é muito positivo. Todos temos nossos objetivos, o problema não está nisso. Entretanto, ter nossos objetivos e anseios não significa colocar nossos desejos acima do respeito e da dignidade humana. Não devemos querer alcançar nossos desejos em favor do sofrimento alheio.
Isso não se aplica somente aos seres humanos, mas a todo o planeta e suas diversas manifestações e expressões, onde vemos que o egoísmo e a cobiça de alguns gera sofrimento em massa de povos e indivíduos. Tudo isso para satisfação de desejos e prazeres.
Assim, os princípios do Budismo nos permitem refletir que o sofrimento advém de um comportamento desequilibrado, este, fruto da ignorância, do egoísmo e na busca desenfreada pela satisfação pessoal de seus desejos em detrimento do bem coletivo.