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Código de Ética Hinduísta

1: O Hinduísmo

O Hinduísmo é uma religião praticada em vários países, em especial, na Índia e Nepal. Também comum em outros países da Ásia, como Bangladesh, Sri Lanka, Paquistão, Malásia, Singapura; alguns países da Oceania, como Ilhas Maurício e Fiji e alguns países das Américas, caso do Suriname, da Guiana e de Trindade e Tobago.

Surge em meio às tradições Védicas cujos textos foram escritos pelos povos arianos, o que, geograficamente, corresponde hoje ao atual Irã. É uma religião politeísta. Os Vedas são textos sagrados para o Hinduísmo escritos, originalmente, em sânscrito, antes, porém, sua transmissão era oral.

Mandala, um dos símbolos do Hinduísmo

Quatro obras constituem os Vedas: Rigveda, Yajurveda, Samaveda e Atharvaveda. Estas quatro obras são a base do Hinduísmo, entretanto, outras obras existem, e possuem notável importância, são elas: Upanishads, Bhagavad-Guita, Ramayana e Mahabharata.

O Hinduísmo é a terceira maior religião em adeptos do mundo, com aproximadamente 1 bilhão de praticantes. Tem por principal base a busca pela liberação, através da correta conduta. Valoriza a verdade, a nobreza do comportamento humano e a generosidade. Trabalha pela abundância que, erroneamente é tomada como conquistas materiais. Para o Hinduísmo, a abundância “tudo de bom”; o que inclui riqueza material, mas também bons amigos, alegrias, saúde, prosperidade nos negócios e tudo que nos faça bem, sem prejudicar aos demais. Isso é a abundância no conceito hindu.

2: Ética no Hinduísmo

A ética na visão do Hinduísmo considera, ao mesmo tempo, a conduta pessoal, denominada Yama e a conduta social, denominada como Niyama.

2.1: Yama

Em sânscrito, Yama significa “controle”. Está fundamentado em cinco princípios que objetivam, em conjunto, um comportamento que não traga prejuízos a si e ao coletivo. Segundo o Hinduísmo, disso resulta a conquista da paz.

Os cinco princípios são:

1 – Ahimsa: Do sânscrito, a não-violência. Esta é a base de todas as demais normas morais. É a não utilização da violência, da agressão ou do exercício da força. É não agredir ou machucar os seres vivos, o que vai além do ser humano. No sânscrito, “hims” é um verbo e significa “bater”. Já “himsa” é a consequência do verbo hims e significa “dano”. A palavra “ahimsa”, por sua vez, significa “ausência de dano”. Foi pela aplicação do Ahimsa que Mahatma Gandhi obteve a independência da Índia sobre a Inglaterra, mantendo sua ação totalmente livre de agressões, a partir da Índia contra os ingleses. O contrário não é válido. A premissa do Ahimsa é que agredir ao outro é também agredir a si mesmo porque todos temos uma mesma origem espiritual. É considerada a mais alta das virtudes e o maior dos autocontroles. É visto como o maior dos sacrifícios, a melhor forma de aplicação da força e o maior dos ensinamentos.

O Hinduísmo fala a respeito da guerra. Diz que ela deve ser evitada a todo custo mediante uso do diálogo, outra ferramenta usada por Mahatma Gandhi. Entretanto, caso não seja possível evitar a guerra, esta deve ter causa justa, ter um propósito virtuoso e, ao fim consiga acabar com o mal e a forma de fazer guerra deve seguir caminhos corretos, sem uso de trapaças, exageros ou nada que implique em aproveitamento do outro.

O Hinduísmo também se pronuncia sobre a autodefesa. Afirma que o mundo não está livre da agressão e que a melhor defesa é aquela em que a vítima está protegida. Essa visão inspirou Morihei Ueshiba a desenvolver o Aikido, arte marcial japonesa. O Ahimsa não deve ser confundido com pacifismo, ainda que essa abordagem traga controvérsias entre os estudiosos.

2 – Satya: Do sânscrito, a verdade, também a honestidade. Em primeira análise é não mentir. Em sentido mais amplo a verdade é um caminho a percorrer. Isso porque a verdade hoje pode mudar e muda porque até obter a iluminação a verdade não é absoluta, e sim, uma verdade relativa que está sendo construída. Ela é construída ao longo do caminho que percorremos, que trilhamos. Satya também é honestidade porque quando falamos algo que experimentamos, isso nos torna honestos por expressar algo que compreendemos. Ademais, falar, com uma falsa propriedade aquilo que lemos ou ouvimos sem ter experimentado, é agir com desonestidade é, em última análise, mentir. Satya está associada fortemente com a ética e a boa conduta.

A sinceridade é uma forma de Satya. Entre o Hinduísmo adverte para não confundir a sinceridade e a espontaneidade com a aspereza e indelicadeza da fala. Não devemos ser rudes, porque assim estamos sendo violentos através da palavra, contrariando o Ahimsa, disfarçando a indelicadeza e a grosseria com Satya. Nossa fala, as verdades ditas, devem ter a roupa da caridade.

A verdade deve ser pesada, de forma que ela deve trazer mais benefícios que malefícios. Um exemplo bastante conhecido é se um assassino está na perseguição de alguém. Se ele nos perguntar onde está essa pessoa e nós sabemos, é preferível mentir a dar vazão a um assassinato. O mesmo serve para qualquer situação, onde calar é preferível a magoar alguém; porque a mágoa não permite a digestão da verdade.

Por fim, um dos maiores obstáculos para Satya é a hipocrisia, a falsidade, o cinismo. Estes elementos são obstáculos para a verdade, a honestidade, a sinceridade. A honestidade e a sinceridade se relacionam também com sermos, em ações, aquilo que realmente pensamos e sentimos. Devemos ser verdadeiros, sinceros conosco mesmos.

3 – Asteya: Do sânscrito, não roubar. Em uma análise mais direta, significa pegar o que não nos pertence. Entretanto, isso vai mais além. Significa também não usurpar ideias alheias, utilizar pensamentos, reflexões, opiniões dos outros como se fossem nossos, sem dar créditos aos seus criadores ou fazer crer que sejam nossas. Faz alusão ainda a aprender a respeitar a opinião alheia, sem querer modificá-la. Mostrar nosso ponto de vista divergente é diferente de querer doutrinar à força nossos semelhantes.

4 – Brahmacharya: Do sânscrito, moderação. Faz referência à contenção de impulsos, ao autocontrole. O termo é composto de duas palavras em sânscrito, Brahma, em síntese, “Deus” e Charya, que significa “Comportamento”, “Conduta”. Em sentido interpretativo significa, “Conduta conforme Deus”. Uma das condutas mais fortes em Brahmacharya é a sexual. Fala-se acerca da fidelidade sexual entre cônjuges.

5 – Aparigraha: Do sânscrito, não possessividade. Não se trata de abster-se do mundo físico e das coisas materiais, mas sim de não dar importância além do que estas coisas tenham. Em síntese, não é colocar consciência em algo que simplesmente cumpre um papel físico. Não significa não trabalhar ou não se organizar para ter uma vida confortável e organizada. Mas, por outro lado, se por algum motivo, as circunstâncias mudarem, não entrar em desespero por isso.

2.2: Niyama

Tem por objetivo desenvolver o caráter no ser humano e a benevolência com os demais. Do sânscrito, niyama significa “regras”, no sentido de serem observadas e cumpridas. São um total de dez e suas descrições podem variar conforme a literatura.

As dez regras são:

1 – Astikya: Significa Fé, Devoção. Não se trata de uma conotação unicamente religiosa, mas também das convicções pessoais. De ter coragem de mantê-las e persegui-las. É a fé em si mesmo e naquilo que acredita, não de forma fanática, mas como convicção de vida que vale ser preservada.

2 – Dana: Significa Generosidade. É dar sem ter a expectativa de nenhum retorno, desde um elogio até algo material ou qualquer honraria. É fazer pelo querer fazer. Fazer algo esperando retorno cria tensões mentais. Quando esse retorno não ocorre, ou não ocorre como ou quando esperamos, vem a frustração.

3 – Devasya Puja: Significa, Devoção, Mística. É o momento dedicado a Deus e também para nossa interiorização. Tem relação com o credo, na busca de Deus e da reflexão de si mesmo e nossos atos, que deve ser feito diariamente. A ideia é sempre reavaliar a si mesmo, como forma de depuração.

4 – Huta: Significa, Ritual de oferenda ao fogo. Também conhecido como Havan. Em síntese, são práticas de limpeza psicológica que buscam limpar a mente, melhorar os pensamentos, para ter equilíbrio na vida.

5 – Hri: Significa Humildade, Modéstia. Ser capaz de reconhecer os erros e ter a dignidade de pedir perdão quando necessário. Relação ainda com mudar comportamentos quando vemos que estes estão errados, tendo a força necessária para mudá-los e a humildade em reconhecer nossos erros. É, ainda, reconhecer que o outro é seu espelho.

6 – Japa: Significa, Recitar Mantrans. É um ato devocional para manter a mente e os pensamentos em ordem.

7 – Mati: Não tem um significado único, mas pode ser traduzido como Busca pela Compreensão. Busca pelo discernimento, pelas descobertas e compreensão das circunstâncias. Incita na percepção de ver as coisas como são e não como achamos que elas sejam.

8 – Santosha: Significa, Contentamento. Saber dar valor ao que se tem e não reclamar pelo o que não se tem. Saber usar o que se tem e não deixar de fazer o possível porque as situações não estão no formato ideal.

9 – Siddhanta shravana: Significa, Estudar as Escrituras. Faz alusão a praticar os ensinamentos tidos como sagrados. Um credo não é uma mera convencionalidade e sim uma prática diária a ser incorporada.

10 – Tapas: Significa, Força de Vontade, Disciplina. Ter disciplina e continuidade de propósitos às nossas atividades, tanto espirituais, como físicas, ou qualquer outra. Saber resistir, sem reclamar, diante das dificuldades.

3: Conclusão

O Hinduísmo preza por um ética que vem de dentro para fora. Valoriza a limpeza da mente e a seleção dos pensamentos como forma de espelhar o bom interior no exterior, através da correta conduta. Existe uma profunda preocupação com a verdade e com a não violência, fatores estes tomados como os mais nobres pilares do Hinduísmo. Existem muitas práticas devocionais com o objetivo de ter uma seleção dos pensamentos. Há ainda práticas de relaxamento para atenuar a ação acelerada de nossa mente.