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O Pão e Circo ainda existe

1: O Contexto Histórico

Quem nunca ouviu falar na expressão “Política do Pão e Circo”? Termo utilizado desde os bancos escolares do ensino fundamental e segue por nossa vida com citação em várias oportunidades para explicar a política e o aparente descaso que a população, no geral, tem frente à política.

Sabe-se que a expressão se refere a um certo momento da Roma na Idade Antiga (antiguidade clássica, período que também contempla a Grécia) para ilustrar a relação entre o divertimento que era ofertado ao povo romano e a política em Roma. Para melhor compreensão vamos entender os três períodos de Roma durante a antiguidade clássica.

  • Primeiro Período: MONARQUIA (753 – 509 a.C.)
  • Segundo Período: REPÚBLICA (509 – 27 a.C.)
  • Terceiro Período: IMPÉRIO (27 a.C. – 476 d.C.)

Não se sabe ao certo sua origem, entretanto, tudo leva a crer que a expressão foi cunhada pelo poeta satírico romano Juvenal (100 d.C.) em sua obra Satírica X. Veja trecho no original em latim e sua tradução para nosso idioma ao lado:

[…] iam orgulho, ex quo suffragia nulli / vendimus, effudit curas; nam qui dabat olim / imperium, fasces, legiones, omnia, nunc se / continet atque duas tantum res anxius optat, / 
panem et circenses.
[…]

Juvenal, Sátira 10.77–81

… Já há muito tempo, desde que não vendemos o nosso voto a ninguém, o Povo abdicou dos nossos deveres; pois o Povo que outrora distribuiu o comando militar, altos cargos civis, legiões — tudo, agora se contém e espera ansiosamente apenas duas coisas: pão e circo.

2: O significado original da expressão

Existem estudos que buscam entender o contexto e a gênese da expressão. Alguns pontos em comuns dos pesquisadores revela que Juvenal queria, em um primeiro momento denunciar o egoísmo da sociedade romana que acabava por banalizar a ideia do bem comum.

Nesta mesma linha, os estudiosos afirmam que isso foi tomando outras proporções de forma a chegar àqueles que dirigiam Roma com o intuito de se manter em seus cargos acima de tudo, um ato também egoísta porque não se importavam com o bem da população e sim com seu status. Assim a expressão foi tomando corpo em direção aos políticos de Roma que criavam meios para manter a população longe dos atos cívicos.

E isso para Juvenal era inadmissível, uma vez que ele não via como salutar o distanciamento do povo com relação à política. Logo, a expressão se remete ao momento em que um povo não tem mais interesse político, não se interessa mais pelo cívico, senão que busca somente subsistir (pão) e ter alguns momentos de alegria para esquecer sua miséria humana (circo). Miséria essa tomada pelo poeta satírico Juvenal tanto do ponto de vista material como do ponto de vista reflexivo; pois, o povo se tornou um povo sem reflexão e entregue aos seus próprios prazeres, retornando a crítica inicial que era o egoísmo de toda uma sociedade.

3: Como era a política do Pão e Circo na prática em Roma

Na prática a política era feita através da distribuição de trigo e oferecimento de espetáculos. A distribuição de trigo era grátis ou subsidiada, feita desde a República Romana pelo político e soldado romano Caio Semprônio Graco (154 a.C. – 121 a.C.). O início dessa prática, conhecida como Annona, foi em 123 a.C.

O objetivo real da prática da Política do Pão e Circo era apaziguar a população, constituída em sua maioria por plebeus (população pobre). A ideia era alimentar (recebimento de trigo sem custo ou com subsídios) e trazer entretenimento para essa população de forma a, paulatinamente, despolitizar essa mesma população, evitando, por parte do Estado Romano, gastos políticos e, por consequência, gastos econômicos para impor suas condições.

O entretenimento era feito a partir de festas, banquetes, eventos esportivos e tantos outros que o Estado Romano considerasse válido. Desta forma, além de evitar gastos políticos oriundos de questionamentos e oposições políticas os chamados líderes romanos mantinham sua popularidade e, desta forma, se mantinham no poder diante de uma população despolitizada e incapaz de um ato cívico e reflexão política, o que impedia, por assim dizer, qualquer ação de oposição política.

4: Os Incas não faziam Pão e Circo

A política do Pão e Circo foi uma prática que visava despolitizar o cidadão romano. Entretanto, temos de registrar que a entrega de alimentos à população é uma prática comum entre os povos.

Há, porém, que estar clara a ideia real da política de subsídio e distribuição de um Estado. No caso de Roma o objetivo era manter a população prisioneira dos atos políticos. Entretanto, isso não é sempre assim.

O maior e melhor exemplo vem dos Incas. Os Incas foram um povo que viveram na região dos Andes, na América do Sul, em especial no Peru, se estendendo também para onde hoje é Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina. O período denominado Civilização Inca ocorreu entre 1.200 – 1533 d.C.

O lema Inca era: não minta, não roube, não seja preguiçoso. O Estado Inca, ajudava socialmente a toda população que precisasse, em especial as viúvas. Havia um imposto cuja arrecadação tinha por objetivo ajudar pessoas em vulnerabilidade social.

A distribuição da ajuda não era para toda a população, de forma indiscriminada, e sim somente para aqueles que precisavam, mesmo porque os incas abominavam a preguiça e o ócio. Eram um povo trabalhador e tinham por valor cultural a ajuda aos necessitados.

Assim, a distribuição e a ajuda social não é a questão. O ponto a ser analisado é o objetivo e os resultados que os subsídios de um Estado trazem à população. Desta forma um estudo comparativo das políticas de subsídio e distribuição gratuita à população podem ser feitas com relação à Roma e aos Incas e, ainda que o ato do Estado em si seja o mesmo, os objetivos e os resultados práticos obtidos são totalmente distintos.

5: Conclusão

Não importa o que se ganhe do Estado, o que não podemos permitir é perder nossa voz. É um direito de todos ter uma forma digna de subsistência. É um direito de todos ter seus momentos de entretenimento. Entretanto não devemos nos permitir ser seres sem capacidade de reflexão.

A ideia do poeta Juvenal de que a sociedade é egoísta traz como reflexão que quando toda uma sociedade só pensa em si essa sociedade está fadada ao fracasso. Saber avaliar e refletir através do prisma do bem comum é uma questão de subsistência; portanto, uma questão de inteligência humana. Os instintos inferiores e o egoísmo (pessoais) devem ser subjugados pela compreensão e reflexão. Só assim uma sociedade se levantará. E este é um dos objetivos da VOX HOMINIS, levar a Consciência Política à população.